163 trabalhadores em condições degradantes são resgatados em obras da BYD em Camaçari
O Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 163 trabalhadores em situação análoga à escravidão nesta segunda-feira (23), nas obras da BYD em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. O caso foi descoberto após a abertura de um inquérito para apurar denúncias de condições de trabalho inadequadas, incluindo alojamentos insalubres, conforme divulgado anteriormente pela Agência Pública.
Durante a ação, realizada em parceria com órgãos federais, foram identificadas condições degradantes que levaram à interrupção das obras. Devido ao elevado número de trabalhadores resgatados, não foi possível deslocá-los imediatamente, mas agentes foram enviados para garantir a paralisação total das atividades e assegurar o pagamento dos salários dos trabalhadores chineses. A BYD e a construtora Jinjiang Group, responsável pelos alojamentos, receberam notificações extrajudiciais para regularizar a situação.
Além da Jinjiang Group, outras duas empresas terceirizadas, Open Steel e AE Corp, também apresentaram irregularidades. Ambas enviaram trabalhadores ao Brasil para prestar serviços técnicos, mas estavam utilizando-os em atividades de construção civil. No caso da Jinjiang Group, os alojamentos apresentavam sérios problemas, como banheiros compartilhados por dezenas de pessoas, falta de água e condições precárias para armazenamento e preparo de alimentos.
Segundo Liane Durão, auditora-fiscal do trabalho, o número de trabalhadores em condições degradantes pode ser ainda maior. “Identificamos e obtivemos provas concretas sobre 163 pessoas, com as quais conversamos diretamente. Há indícios de que mais trabalhadores estão vivendo nessa situação, e continuamos investigando para resgatá-los”, afirmou.
Embora as terceirizadas e a construtora sejam responsáveis pelos registros formais dos trabalhadores, a BYD também será responsabilizada devido à sua obrigação legal de garantir um ambiente de trabalho seguro. “A empresa contratante tem responsabilidade solidária em casos como este, e o inquérito seguirá para apurar os fatos”, explicou Liane Durão em coletiva de imprensa.
Fábio Leal, subprocurador do MPT, destacou a gravidade das condições encontradas. “Esses trabalhadores estavam submetidos a situações extremamente degradantes, com jornadas exaustivas e alojamentos completamente inadequados. Um banheiro era compartilhado por 31 pessoas, e alimentos eram armazenados em locais impróprios, como materiais de construção”, revelou.
As investigações também identificaram acidentes graves, incluindo mutilações, além de jornadas de trabalho que chegavam a 10 horas por dia, durante sete dias por semana. A reportagem procurou a BYD para obter um posicionamento oficial sobre o caso, mas ainda não recebeu resposta.